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Reunião do Brics em julho será no Rio de Janeiro, anunciam Paes e Mauro Vieira
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João Fonseca enfrentará o francês Alexander Muller na estreia do Rio Open
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O primeiro contato oficial de Donald Trump com Vladmir Putin, após seu retorno à Casa Branca, repercutiu em todo o mundo. O mandatário norte-americano disse que o processo para se costurar a paz na Ucrânia já foi iniciado e espera se encontrar pessoalmente com o líder russo em um futuro próximo. Apesar de ter comunicado o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, de seu telefonema com os russos, a forma como tudo aconteceu gerou enorme desconforto na Europa e principalmente em Kiev. Donald Trump, basicamente, retirou qualquer possibilidade de a Ucrânia negociar a paz em seus termos, por mais irrealizáveis que eles podem ser.
Ao tomar as rédeas de todo o processo de mediação diretamente com a Rússia, o governo estado-unidense desconsidera a soberania dos ucranianos em decidirem seu próprio futuro. Nos dias seguintes muitos líderes europeus lamentaram a postura de Trump em colocar a Ucrânia de escanteio ao se prontificar a negociar os termos diretamente com Putin. A réplica dos americanos argumentou que Kiev terá um assento à mesa, mas não deixou claro como poderão construir uma paz justa.
Utilizando os mais recentes dados militares e territoriais, é evidente que a Ucrânia está em desvantagem e as suas tropas perderam a moral.
Cerca de 21% de seu território já é controlado pelos russos, grande parte da sua economia foi devastada e centenas de milhares de soldados e civis morreram. A vitória militar russa, mesmo sendo muito abaixo das expectativas do Kremlin, consolida também uma vitória geopolítica contra o Ocidente. Todavia, a impunidade proposta por Trump abrirá precedentes perigosos em um mundo onde mais pessoas vivem em países ditatoriais e autoritários que em democracias.
Os termos da paz de Trump são ainda desconhecidos em profundidade, porém muitas fontes próximas da diplomacia norte-americana, dizem que a proposta envolverá o congelamento das linhas de batalha atuais, a concessão dos territórios unilateralmente anexados à Rússia e algum tipo de garantia formal que proteja o restante da Ucrânia.
Caso esse seja mesmo o esqueleto do plano de Trump, a vitória russa seria não apenas importante internamente para Putin, mas especialmente simbólica com o aval do maior rival histórico dos russos, os Estados Unidos. Ao ter a corroboração de uma das principais democracias do mundo que agir com violência e quebrando leis que regem o direito internacional, dá frutos, os russos enviarão uma mensagem potente ao resto do mundo autoritário.
Na configuração das alianças geopolíticas pós Segunda Guerra Mundial, a lei do mais forte, que regeu o mundo por milênios, foi substituída pela civilidade de um código de leis específicas aceitas por quase todas as nações. Foi nessa época que o colonialismo se tornou moralmente intolerável, que guerras entre nações vizinhas geraram enorme repúdio internacional, e quando, de fato, o número de conflitos ativos no mundo diminuiu.
Ainda temos muitas tensões na Península Coreana, onde um vizinho ditatorial e militarmente mais forte reivindica o território do Sul. Há ilhas no Mar Egeu que pertencem formalmente à Grécia, mas são por décadas cobiçadas pela autocracia turca. Igualmente no continente africano, há conflitos territoriais no norte da Etiópia, na região de Tigray, na fronteira com a Eritreia.
Poderia listar mais uma dezena de conflitos étnicos e políticos que se desenrolam entre vizinhos, onde pelo menos um lado é autoritário e mais forte.
Seria neste novo mundo de Trump, aceitável a Coreia do Norte invadir Seul? Nesta nova realidade internacional proposta pelo governo americano, seria justo que Erdogan anexasse as ilhas gregas? Neste mundo onde os mais fortes achacam os mais frágeis, idealizado pelo republicano, seria razoável o exército Etíope violar as fronteiras com a Eritreia?
Todos esses complexos conflitos que ainda ocorrem e tantos outros adormecidos, podem ter um impacto direto ao ver a maior economia do mundo deixar um país invasor anexar 20% de seu vizinho e sair impune. Os mecanismos internacionais para se punir a Rússia econômica e politicamente, mesmo com a cessão dos territórios, existem, mas sem o apoio norte-americano dificilmente terão algum efeito. As próximas semanas serão decisivas para sabermos o desfecho da guerra no Leste Europeu, mas também para concluirmos se a impunidade voltará a reinar entre as nações em pleno século XXI.
Fonte: Noticias ao Minuto Read More