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Em tempos de tensões geopolíticas, guerra cibernética e busca por soberania digital, uma pergunta vem ganhando força entre especialistas e estrategistas: por que o Brasil, uma das maiores economias do mundo, ainda não tem seu próprio sistema de navegação por satélite? A resposta envolve ciência, tecnologia, orçamento, visão estratégica e — sobretudo — vontade política.
O que é um sistema de GPS?
GPS é apenas o nome popular do sistema de posicionamento dos Estados Unidos: Global Positioning System, criado e mantido pelo Departamento de Defesa norte-americano desde os anos 1970. Ele faz parte de uma categoria mais ampla chamada GNSS (Global Navigation Satellite System), que inclui:
- GLONASS (Rússia)
- Galileo (União Europeia)
- BeiDou (China)
- NavIC (Índia – regional)
- QZSS (Japão – regional)
Todos esses países entenderam que dominar a localização e o tempo com precisão via satélite é uma questão de segurança nacional e independência tecnológica.
E o Brasil? Por que ainda não tem?
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Falta de investimento e continuidade
O Brasil já teve projetos para sistemas espaciais, como o SISNAV (Sistema de Navegação por Satélite), proposto pela Aeronáutica nos anos 2000, e a parceria com a China no programa CBERS (satélites de sensoriamento remoto). No entanto, não houve continuidade política ou orçamentária. Projetos estratégicos morrem em mudanças de governo, cortes de verbas e falta de coordenação entre ministérios, Forças Armadas e universidades.
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Custo elevado
Para construir um sistema de navegação global, seriam necessários:
- Lançar e manter pelo menos 24 satélites em órbita média (20 mil km de altitude)
- Ter estações de controle e rastreamento em solo
- Investir bilhões de dólares em pesquisa, tecnologia espacial e segurança cibernética
Um sistema como o GPS custa entre US$ 10 e 15 bilhões para ser desenvolvido e operado, fora os custos de atualização contínua.
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Baixa percepção de risco
Diferente de EUA, China ou Rússia, o Brasil não participou de grandes conflitos armados globais e, por isso, nunca encarou a interrupção do GPS como uma ameaça real. Mas, com a crescente militarização do espaço e disputas econômicas — como as atuais tensões entre Brasil e EUA — essa percepção está mudando.
Pesquisa, inovação e soberania digital caminham juntas
Ter um sistema próprio de GPS não é apenas uma questão de lançar satélites, mas sim de construir toda uma base científica e tecnológica nacional. Isso passa diretamente por:
- Investir em pesquisas científicas com foco em engenharia aeroespacial, física orbital, comunicação segura e criptografia.
- Incentivar o registro de patentes nacionais, para que tecnologias críticas estejam protegidas sob domínio brasileiro.
- Formar mestres e doutores em universidades públicas e privadas, com foco em áreas estratégicas.
- Estabelecer cooperação internacional acadêmica, garantindo acesso a laboratórios, simulações e dados orbitais.
- Ampliar o orçamento para ciência e tecnologia, especialmente para o setor espacial.
Nenhuma nação do mundo desenvolveu seu próprio sistema de navegação por satélite sem apoiar fortemente a ciência e a produção de conhecimento local. Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 888 pesquisadores em tempo integral por milhão de habitantes, segundo dados do Global Innovation Index de 2014. Em contraste, países como Alemanha têm cerca de 4.300 pesquisadores por milhão de habitantes, enquanto a Coreia do Sul chega a 6.457 e os Estados Unidos têm cerca de 4.825 pesquisadores por milhão (em 2021).
Isso coloca o Brasil muito atrás desses líderes globais — o país tem entre 4 e 7 vezes menos pesquisadores por habitante do que as nações com sistemas científicos e tecnológicos mais robustos. Se quisermos ter autonomia tecnológica, precisamos transformar o conhecimento em prioridade nacional.
Por que isso importa?
Se os EUA decidissem degradar ou limitar o sinal do GPS para o Brasil, mesmo que de forma temporária, os impactos seriam enormes:
- Tratores e colheitadeiras parariam no campo (agricultura de precisão)
- Entregas e frotas seriam desorganizadas
- Voos poderiam ser desviados ou cancelados
- Aplicativos de mobilidade ficariam imprecisos
- PIX, bancos e sistemas que dependem de tempo exato sofreriam instabilidades
- A dependência de uma tecnologia que não controlamos nos coloca em risco constante.
O que o Brasil poderia fazer?
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Criar um sistema regional, como o Japão ou a Índia
O Brasil não precisa competir com EUA ou China, mas pode desenvolver um sistema regional sul-americano com cobertura local. Isso já aumentaria a segurança, ajudaria na defesa, no agronegócio e nas telecomunicações.
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Fortalecer o Programa Espacial Brasileiro
A Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) têm capacidade técnica, mas precisam de orçamento, planejamento de longo prazo e fomento à pesquisa científica.
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Integrar-se mais a sistemas como Galileo (UE) ou BeiDou (China)
Diversificar o uso de sinais GNSS aumenta a resiliência. O Brasil pode assinar acordos estratégicos com outras potências, garantindo acesso a dados, frequências e cooperação tecnológica.
Soberania Digital no século XXI também é orbital
Hoje, a soberania digital de um país não se mede apenas por seu exército, moeda ou território físico, mas também por sua capacidade de operar tecnologias críticas. Satélites, posicionamento global e autonomia espacial são componentes-chave dessa nova geopolítica. E mais do que satélites, a verdadeira independência começa na base: pesquisa, educação, patentes e cérebros brasileiros trabalhando pelo futuro do país. Se o Brasil quiser ser um protagonista global, não pode continuar dependendo de sistemas estrangeiros para saber onde está.
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Fonte: Noticias ao Minuto Read More