Conta de luz mais cara, dificuldade para respirar e cartilha: brasileiros contam como enfrentam onda de calor no exterior
O Hemisfério Norte vem sofrendo com uma onda de calor intenso que vem provocando incêndios violentos, prejudicando o turismo e mudando a rotina de norte-americanos, europeus e asiáticos. As temperaturas chegaram a superar a marca de 40º C em diversas regiões. As autoridades de saúde emitiram alertas de calor na Europa, na Ásia e na América do Norte, reforçando a importância de hidratação e da proteção do sol. Um dos países que vive a pior situação é a Grécia, onde foram registradas diversas “batalhas” contra as chamas na região de Atenas e na ilha de Rodes, ponto turístico do país. O primeiro incêndio, no último dia 17, queimou 3.472 hectares, incluindo 164 de áreas urbanas, segundo o observatório do clima europeu Copernicus. Até o momento, o país europeu registrou quatro mortes causadas pelas chamas. Na China, foi registrado um novo recorde de temperatura para o mês, com os termômetros marcando 52,2º C no interior do país. Pequim registrou temperaturas superiores a 35º C. Nos Estados Unidos, Phoenix, a capital do Arizona, registrou mais de 19 dias consecutivos com temperaturas iguais ou superiores a 43,3º C. Os serviços de meteorologia destacam que a onda de calor “opressiva” no sul do país deve gerar mais recordes de temperaturas. Na Califórnia, focos de incêndio queimaram 3,2 mil hectares. No Canadá, a situação também é delicada, com 885 incêndios ativos e 566 fora de controle. Na luta contra o fogo, dois bombeiros já morreram. O Japão emitiu alertas de calor para 32 de suas 47 cidades, com temperaturas se aproximando do recorde de 41,1º C, registrado em 2018.
Na Itália, 20 cidades entraram em alerta vermelho para as altas temperaturas. A capital Roma, por exemplo, viu os termômetros atingirem a marca de 40º C, próximo do recorde de 40,5º C, registrado em 2007. Em entrevista ao portal da Jovem Pan News, a estudante brasileira Helena Rinaldi falou sobre a chegada da onda de calor na Europa. Vivendo em Milão desde dezembro de 2022, a brasileira diz que o calor intenso começou em julho e destaca que vem sentindo dificuldades para se locomover a pé pela cidade. “O calor em si começou em junho e, agora em julho, ficou bem mais intenso. Falam que agosto é ainda pior. O impacto que eu senti logo de cara foi de ficar muito cansada e não conseguir andar tanto. Eu me locomovo bastante a pé. Em São Paulo, eu também me locomovia assim. Comparando um com o outro, eu percebo que aqui o calor é muito mais intenso. Você sente até mais dificuldade de respirar. […] Aqui em Milão não bate muito vento. Como, principalmente no centro da cidade, é tudo feito de pedra, as ruas são muito estreitas e não tem essa questão do vento, fica muito abafado. É um calor muito mais pesado que o calor que a gente tem no Brasil”, relata Helena. Outro ponto destacado pela estudante é o alto consumo de líquidos para combater as altas temperaturas. “A diferença que ficou bastante evidente mesmo foi em relação ao consumo de líquidos, tenho gastado bem mais nesse sentido”.
Outro país que enfrenta dificuldades causadas pela onda de calor é a Espanha. Na região da Catalunha, no nordeste do país, os termômetros bateram 45,3º C. Nas Ilhas Baleares, que abrigam Ibiza e Mallorca, apontaram 43,7º C nesta semana. Ao portal da Jovem Pan, a estudante Milena Alvarez, que vive em Granada, no sul da Espanha, relatou que está consumindo mais água do que o normal e que tem evitado sair de casa nos horários de pico de calor.”Um dos impactos que eu senti foi no consumo de água. Muita sede, aqui é muito seco, então estou bebendo muita água, tanto fora de casa quanto em casa. A todo momento eu tenho sede. A onda também afetou a minha rotina, porque faz muito calor, então é impossível sair na rua às 16h, por exemplo. Tem que esperar o sol abaixar um pouco […]. Dá para sair de casa depois das 19h. Não dá para ficar caminhando na rua porque, com o sol de 40º C na cabeça, fica difícil”, afirmou Milena. No país desde outubro de 2022, a brasileira destaca que outro impacto que sentiu foi na utilização de ônibus, já que fazer trajetos a pé ficou mais difícil com as altas temperaturas. “Aqui a gente anda muito a pé. Por conta do calor, tem alguns lugares que não consigo ir a pé porque faz muito calor e é impossível andar na rua, então eu tenho pegado muito mais ônibus do que eu costumava”, continuou.
Nos Estados Unidos, a situação também está complicada, com altas temperaturas sendo registradas em todo o país, especialmente no sul. O brasileiro Eduardo Munhoz, que trabalha como administrador e vive nos EUA desde 2016 — está em Miami há três anos — destaca que esse é o verão mais quente desde que chegou ao país. “O clima em Nova York sempre foi de muito calor no verão e muito frio no inverno. Em Miami, dificilmente faz frio. Está sempre quente e com muita chuva no verão. Eu nunca gostei desses extremos, mas este ano está sendo o mais quente de todos desde que cheguei. Está muito calor. Vários dias com sensação térmica acima dos 40º C no almoço”, relata Munhoza. O brasileiro também diz que a população teve que mudar sua rotina e que os impactos financeiros já estão sendo vistos. “As pessoas acabaram mudando um pouco a rotina e evitam sair muito ou praticar esportes entre as 10h e as 17h. […] Sem dúvidas, o ar—condicionado é o que mais afeta. É impossível viver sem, e a conta de luz acaba aumentando”, diz o administrador, que ressalta que o consumo de líquidos também aumentou.
Mês mais quente da história?
A Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço) alertou que julho de 2023 será o mês mais quente “em centenas, senão milhares de anos”. O alerta foi emitido pelo climatólogo Gavin Schmidt durante reunião com jornalistas. A afirmação foi baseada em estimativas elaboradas com dados coletados por ferramentas de monitoramento da União Europeia (UE) e da Universidade de Maine, nos EUA. “Estamos observando mudanças sem precedentes em todo o mundo: as ondas de calor que estamos vendo nos Estados Unidos, Europa e China estão quebrando recordes a torto e a direito”, disse Schmidt. O cientista disse ainda que o calor não pode ser atribuído apenas ao fenômeno El Niño. “O que estamos observando é um aquecimento generalizado, praticamente em todos os lugares, principalmente nos oceanos. Estamos registrando temperaturas recordes na superfície do mar há muitos meses, mesmo fora dos trópicos”, afirmou o especialista, que disse existir a chance de 2023 ser o ano mais quente da história. “Mas antecipamos que 2024 será um ano ainda mais quente, porque começaremos com esse evento de El Niño que está se formando agora e atingirá o pico no final deste ano”, finalizou.
Posicionamento das autoridades
Na Itália, Helena conta que o governo do país divulgou uma cartilha com dicas de proteção contra as altas temperaturas. Dentre elas, estão recomendações como evitar sair em horários mais quentes, ingerir líquidos, evitar bebidas com cafeína e alcoólicas e realizar refeições leves. Segundo Milena, o governo da Espanha deu orientações similares, pedindo cuidados com grupos mais vulneráveis, como idosos, crianças e gestantes. Em Genebra, na Suíça, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que “o calor extremo está afetando duramente as pessoas menos capazes de lidar com suas consequências, como os idosos, os bebês e as crianças, assim como os pobres e as pessoas sem-teto”.
*Com informações da AFP
Fonte: Jovem Pan Read More