Ato abominável em meio as lágrimas

Esperar virtudes ou qualquer tipo de compasso moral apurado de terroristas islâmicos é utópico, principalmente se considerarmos a barbárie realizada pelo Hamas em Israel no dia 07 de outubro de 2023. Todavia, as regras de um cessar-fogo e as condições estipuladas para seu cumprimento, exigem determinado decoro, fruto da seriedade do que foi negociado e do que acontece no aspecto militar. Apesar de ambos os beligerantes estarem seguindo todas as regras estabelecidas, o grupo terrorista, aproveita deste momento de paralização das hostilidades para demonstrar a Israel, e ao mundo, que ainda sobrevive, e que estaria disposto a continuar lutando, caso fosse necessário.

Hoje, durante a vigência da primeira fase do acordo de cessar-fogo, corpos de quatro reféns mortos em Gaza, foram devolvidos a Israel. A família Bibas, habitantes de um Kibutz no sul do país foi sequestrada pelos terroristas no dia da invasão em 2023, o pai, a mãe e os dois filhos. O pai, Yarden, foi liberto no último dia primeiro de fevereiro, mas após o dia de hoje, deve ter sentido a liberdade como um castigo, ao constatar que o restante de sua família morreu. A esposa, Shiri e os dois filhos, Ariel de 4 anos, e Kfir de apenas 9 meses, não retornaram de Gaza com vida e tiveram nas suas mortes uma das demonstrações mais cruéis e repugnantes de uso político por um grupo fundamentalista. Ao preparar os caixões pretos para a devolução à Cruz Vermelha, os corpos cobertos foram expostos em um palanque na região central de Gaza, cercados por homens encapuzados e armados, entoando palavras de ordem em árabe. Ao fundo, um cartaz expondo as fotos das crianças e da mãe, também mostrava uma montagem da figura do premiê Benjamin Netanyahu como o diabo, o chamando de nazista e culpando o governo de Israel pelas mortes, através de um bombardeio no período de guerra.

Por enquanto, os exames póstumos não constataram a causa da morte e até levantam a possibilidade dos restos mortais supostamente atribuídos à mãe não ser, de fato, de Shiri Bibas. Contudo, o completo desrespeito pelas crianças cruelmente sequestradas e mortas, as utilizando como instrumento de uma guerra religiosa e política através do terrorismo internacional, promoveu fortes reações em todo o mundo. O alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, Volker Türk, condenou veementemente o desfile de corpos, chamando o ato de abominável e uma quebra do direito internacional. O premiê, Netanyahu, disse que o dia é de profunda angústia para todo o Estado de Israel e prometeu eliminar o Hamas.

Após mais de 500 dias de um conflito que se repete no Oriente Médio há décadas, as preocupações humanitárias com a população de Gaza são crescentes frente ao plano de Donald Trump de remover 2 milhões de pessoas de sua terra natal. A maneira provocativa como o Hamas realiza cada libertação dos reféns é vista como uma ameaça constante para a segurança de Israel, concomitantemente a um prelúdio de uma quebra do cessar-fogo e a retomada da guerra em breve. Infelizmente, a crueldade dos atos terroristas e a desproporcionalidade da resposta de Israel nos primeiros meses, culminaram com a gradativa desumanização de inocentes, que assim como a família Bibas, tiveram suas vidas dilaceradas por uma guerra que não as pertence. Os tempos continuam nebulosos e sombrios no Médio Oriente, e apesar da aparente calmaria, tudo indica que o conflito está longe do fim.