Dia Internacional do TDAH: o que você realmente sabe sobre o transtorno?

Dia Internacional do TDAH: o que você realmente sabe sobre o transtorno?

Hoje, 13 de julho, é o Dia Internacional do Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Como psiquiatra, vejo diariamente os desafios que meus pacientes enfrentam. Vou compartilhar com vocês o que é o TDAH, suas causas, impacto, diagnóstico, tratamentos e como alguém pode ajudar quem vive com essa condição.

O que é o TDAH?

Imagine que seu cérebro é uma orquestra. No TDAH, alguns instrumentos tocam fora de sintonia. O maestro, que deveria coordenar tudo, está distraído. O resultado? Desatenção, hiperatividade e impulsividade. Esses sintomas variam de pessoa para pessoa e afetam tanto crianças quanto adultos. Cerca de 1 em cada 20 pessoas no mundo tem TDAH, praticamente uma pessoa a cada sala de aula!

Causas e Fatores de Risco:

O TDAH tem um forte componente genético, como um traço de família passado de geração em geração. Quando uma pessoa recebe o diagnóstico de TDAH, a chance de um dos pais também ter TDAH é de cerca de 40%. Além disso, alguns fatores ambientais, como exposição a substâncias tóxicas durante a gravidez, podem influenciar.

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Impacto do TDAH na Vida Cotidiana:

O TDAH pode transformar a vida em um verdadeiro campo minado. Vou contar algumas histórias para ilustrar:

– No Trabalho: João, um adulto com TDAH, luta para cumprir prazos. Ele se sente sempre correndo contra o relógio. A procrastinação é seu maior inimigo, e a impulsividade o faz tomar decisões precipitadas que ele depois lamenta.
– Nos Relacionamentos: A impulsividade pode transformar uma conversa tranquila em uma discussão acalorada num piscar de olhos. Maria, por exemplo, muitas vezes interrompe seu parceiro sem perceber, gerando conflitos constantes.
– Gestão do Tempo: Para pessoas com TDAH, como Pedro, gerenciar o tempo é como tentar agarrar fumaça. A desatenção e a procrastinação fazem com que ele perca prazos e se sinta constantemente sobrecarregado.

Diagnóstico do TDAH:

Diagnosticar o TDAH é um trabalho de detetive. Converso com os pacientes e seus familiares. Na infância e adolescência, pais e professores são peças-chave. Meninas frequentemente passam despercebidas por serem mais desatentas do que hiperativas. Já os meninos são mais agitados e chamam mais atenção na escola. A avaliação neuropsicológica também pode ser útil para entender melhor as funções cognitivas e comportamentais.

Tratamentos Medicamentosos:

As medicações para TDAH são como ajustar o foco de uma câmera embaçada. Elas ajudam a clarear a mente, permitindo que a pessoa veja e lide melhor com suas tarefas diárias. Essas medicações são muito eficazes, funcionando bem em cerca de 80% dos casos. Existem dois principais tipos de medicação: estimulantes e não estimulantes.

– Estimulantes: Incluem medicamentos como metilfenidato (Ritalina) e anfetaminas (Adderall). Eles atuam aumentando os níveis de dopamina e noradrenalina no cérebro, melhorando a concentração e reduzindo a impulsividade e a hiperatividade.
– Não Estimulantes: Incluem medicamentos como a atentah (atomoxetina). Eles são geralmente prescritos para pessoas que não respondem bem aos estimulantes ou que apresentam efeitos colaterais indesejados. Além desses, existem outras medicações possíveis, mas não entraremos em detalhes aqui.

Desmistificando os Preconceitos:

Há um grande estigma em torno do uso de medicamentos para TDAH, mas é importante lembrar que essas medicações são seguras e eficazes quando usadas corretamente. Elas não viciam quando tomadas conforme a prescrição médica e são acompanhadas de perto por um profissional de saúde. O uso adequado das medicações pode transformar a vida de quem tem TDAH, permitindo uma maior qualidade de vida e funcionalidade.

Terapias Comportamentais:

Além dos medicamentos, as terapias comportamentais são essenciais:

– Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Ajuda a desenvolver habilidades de organização, gerenciamento do tempo, melhorar nos relacionamentos e no controle de impulsos.
– Treinamento de Pais: O psicólogo infantil ensina técnicas para lidar com o comportamento dos filhos com TDAH, melhorando muito os resultados do tratamento.

Comorbidades e Subdiagnóstico em Adultos:

Muitos adultos com TDAH procuram ajuda por causa de outras condições associadas, como:

– Depressão: Ricardo sempre sofreu com dificuldades de desempenho, prejudicando sua autoestima e causando pensamentos de tristeza e incapacidade. Tratar a depressão e o TDAH melhorou sua confiança e produtividade.
– Ansiedade: A procrastinação de Júlia a fazia estar sempre com muitas pendências, o que a deixava muito ansiosa. Tratar o TDAH e a ansiedade resolveu seu problema.
– Dependência Química: Marta começou a usar drogas na época do colégio, achando que não conseguia estudar e as drogas lhe davam prazer e enturmavam com o grupo. Com o tempo, ficou mais difícil parar o vício, mas o tratamento para TDAH foi fundamental para sua recuperação.

O TDAH talvez seja um dos transtornos mais subestimados de toda a psiquiatria. Como é um transtorno do desenvolvimento, muitas vezes a pessoa não percebe que tem algo errado até que uma comorbidade se torne evidente.

Educação e Conscientização sobre o TDAH:

Todos nós precisamos entender o que é o TDAH para reduzir o estigma. Informar professores, colegas de trabalho e a comunidade é essencial. Isso ajuda na inclusão e no apoio às pessoas com TDAH, além do diagnóstico precoce.

Mitos e Realidades sobre o TDAH:

Existem muitos mitos sobre o TDAH. Vamos desfazer alguns:

– Mito: O TDAH não é real.
– Realidade: O TDAH é um transtorno reconhecido cientificamente e um dos mais bem documentados da psiquiatria.
– Mito: Apenas crianças têm TDAH.
– Realidade: Adultos também podem ter TDAH, mas com sintomas diferentes.
– Mito: Pessoas com TDAH são menos inteligentes.
– Realidade: O TDAH não afeta a inteligência.

O Dia Internacional do TDAH é uma oportunidade para entender mais sobre esse transtorno e apoiar aqueles que vivem com ele. As pessoas com TDAH enfrentam muitos desafios e sofrem muito mais do que se imagina, mas o tratamento médico para TDAH é um dos mais eficazes na psiquiatria, trazendo grandes melhorias na qualidade de vida dos pacientes. A psicoterapia também é crucial, ajudando a desenvolver habilidades e hábitos que, junto com o tratamento médico, proporcionam uma vida mais equilibrada e produtiva.

Com a informação correta, podemos ajudar a reduzir o estigma e criar um ambiente mais inclusivo para todos. Caso acredite que você ou alguém conhecido possa ter TDAH, procure um profissional de saúde mental.

*Por Dr. Gabriel Magalhães Lopes

CRM/SP: 131.339
RQE: 48295 – Psiquiatra de Adultos
RQE: 48295-1 – Psiquiatra de Crianças, Adolescentes e Adultos

Fonte: Jovem Pan Read More